O
Cinema
de
Jim Jarmusch
-
Longos
planos, personagens desencontrados e a decadência da
cultura americana, o consagram como um
dos cineastas mais representativos de seu tempo.
Por:
Dênis Torres
Fotos:
Divulgação
Jim
Jarmusch
é
conhecido
como o
cineasta
americano
independente
-
palavra
que ele
odeia -
dos anos
80, e que
deu voz
às
pessoas
insignificantes
e
excluídas
da
sociedade,
ou mesmo
àquelas
que são
simplesmente
estranhas
e fora
do
conceito
padrão,
como ele
mesmo.
Cult é uma definição
que persegue Jim Jarmusch
desde a sua obra prima
Estranhos no Paraíso até
a mais recente Flores
Partidas.
Um filme curioso em sua
filmografia é Sobre
Café e Cigarros. Trata-se de várias
conversas feitas ao longo
dos anos com diversos amigos
e gente famosa
-
o projeto começou em 86
e o filme só foi finalizado em 2004.
Nascido em Akron, Ohio, em 22/02/53, Jarmusch fixou
residência em Nova York,
onde foi aluno do grande
cineasta Nicholay Ray, seu
grande incentivador, na
famosa New York Film School.
Seus estudos não foram até o
fim. Na sua urgência de
filmar algo, abandonou
os mesmos, e usou o
dinheiro de sua bolsa para
custear seu primeiro filme,
Permanent Vacation (1980).
A princípio, o filme não foi bem recebido por seus
professores, com exceção de
Ray, que o ajudou. Filme de
baixíssimo orçamento, mas
cheio de criatividade,
Permanent Vacation abriu
os olhos da crítica para
esse talento promissor.
Seu filme seguinte, Estranhos no Paraíso (1982), é
considerado por muitos sua
obra-prima e definitivamente
colocou Jarmusch como um
nome a ser respeitado. Aqui
já se percebe os temas
principais que irão pontuar
toda a sua carreira daí em
diante: longos
planos reflexivos,
personagens desencontrados,
a decadência da cultura
americana, a comunicação
entre culturas diferentes e
principalmente a falta da
mesma.
Jim Jarmusch formou no cinema uma das parcerias musicais
mais criativas de sua
história com Tom Waits,
responsável pelas trilhas e
canções dos seus melhores
filmes. Jarmusch/Waits
formam uma união perfeita,
incorporando ideias quanto à
ambientação e estética como
ninguém.
Basta escutar sua voz rasgada e rouca e imediatamente
podemos nos transportar ao
universo onírico de Jarmusch.
É importante também lembrar
a parceria de Jarmusch com o
músico John Lurie, que
atuou em alguns de
seus filmes, além de compor
as trilhas.
Falando em parcerias, outra que Jarmusch não abre mão é a
do seu fotógrafo, o holandês
Robby Müller, que consegue
criar todo aquele ar etéreo
e frio que seus filmes
costumam pedir.
Aliás, o cinema de Jim Jarmusch tem um feeling
europeu, mas que fala
dos costumes americanos e expõe
uma realidade que não é a
vendida pelo sonho
americano. Daí ele ser muito
mais reconhecido pelos
europeus do que por seus
“compatriotas”.
Todos os seus filmes possuem cenas memoráveis, como o
hilário diálogo de Roberto
Benigni com o taxista em
Uma Noite Sobre a Terra
(1991) - seu filme mais bem
sucedido financeiramente.
O mesmo Benigni em Down By Law (1983), como o
forasteiro italiano tentando
entender as palavras em
inglês, com seus amigos
presidiários Tom Waits e
John Lurie pouco ajudando,
oferece momentos impagáveis.
Eu grito,
você
grita,
todos
nós gritamos por
sorvete!
Cena antológica
em Dow by Law
com atuação de
Benigni
Três colegas (Benigni, Waits e Lurie) jogam cartas quando o personagem de Lurie ganha e solta um grito de gozação por ter vencido a partida.
Benigni pergunta o que ele disse. Lurie diz "apenas gritei" (scream) Como o personagem de Benigni não perde a oportunidade de conhecer novas palavras, ele saca o seu já difamado caderninho de anotações e se depara com a palavra Ice Cream.
Pronto!Daí de sua cabeça insana já sai o trocadilho para a frase que ficou famosa no filme e que é repetida continuamente pelos três de maneira enlouquecida, contagiando assim o resto dos prisioneiros de outras celas e causando um pequeno tumulto, pois todos cantam em uníssono:
I scream, You scream, We all scream for Ice Cream!
A dinâmica dos personagens de Jarmusch oferece uma abordagem
honesta, comovente, a mais despojada
e natural
possível, sempre em
lugares decadentes onde
quase ninguém olha ou dá
importância.
Filmar é como
sexo. Escrever o roteiro é
como a sedução, a
filmagem em si é o sexo,
pois você está fazendo o
filme com outras pessoas. A
edição é como estar grávido, você dá a luz e eles
levam o seu bebê.
Depois desse processo feito,
eu irei assistir ao filme
mais uma vez com um público
pagante sem que ele saiba
que estou na sessão, e jamais o verei novamente.
Me canso disso tudo.
(Jim Jarmusch)
Apesar de estar quase
inativo nesta década, o ano
de 2009 promete mais um bom
filme de Jim Jarmusch: The
Limits of Control, que
possui gente como Tilda
Swinton, Bill Murray, Gael
Garcia Bernal e John Hurt em
seu elenco.
Outros filmes a se destacar
de Jarmusch são: o irônico
Mistério Trem (1989), o anti-western Dead Man (1995)
- com o seu colega e agora
superstar Johnny Depp, o
filme de samurai mais maluco
que já vi, Ghost Dog (1999)
e o poético Flores Partidas
(2005).
Todos filmes à altura de um
dos cineastas mais
representativos de seu
tempo.