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01/08/2006

 

O ator André Fusko acreditou no projeto de teatro que tinha em mente, e foi fundo! Sem um centavo no bolso e com muita persistência, montou ótimo espetáculo cult.   O resultado está em cartaz em SP.                    

 

Nome completo, data e local de nascimento.

AF:André Fusko, natural de São Paulo. 25/09/1972

Médico e ator. Quem veio primeiro?

AF:Na faculdade de medicina comecei a fazer teatro e descobri que eu era ator e não sabia. Tive que vencer meu preconceito e depois o da minha família. Este tempo de aceitação e transição serviu também pra eu acabar a faculdade. No mesmo ano em que me formei médico prestei vestibular pra Escola de Arte Dramática da ECA USP e comecei minha formação profissional no teatro.

O que o André/Ator contribuiu com o trabalho do André/Médico, e vice-versa?

AF:Nossa! Tanta coisa!!! O curso de medicina é muito técnico e traz uma relação com o raciocínio lógico e prático que me faz uma pessoa mais eficiente. Sinto falta do lado humano na nossa formação e no dia-a-dia do exercício da medicina. Já o Teatro tem uma relação mais próxima com a emoção, com a filosofia e com o lado humano. Uma se soma a outra, mas o Teatro tem uma cara mais próxima do que eu julgo que seja melhor pra humanidade. Até o fenômeno da catarse, onde a pessoa alivia os sentimentos reprimidos pela moral e pela vida em sociedade,vivenciando esses sentimentos na arte, até este fenômeno é uma cura pra muitos males de hoje. Digo isso como médico e sem nada de metafísico. É cientificamente comprovado. O homem hoje está muito distante do que ele é, do animal que ele é, e distante também da compreensão deste animal e com isso do autoconhecimento. Isto adoece pessoalmente e coletivamente.

Como foi a experiência de ser o idealizador do espetáculo O Anjo do Pavilhão, desde o início, a idéia, até a conquista, a estréia.

AF:Está sendo um aprendizado maravilhoso. Sofro às vezes com a minha inexperiência. Nada acontece como eu esperava e isso às vezes é bom e às vezes não. Tudo começou há 4 anos quando procurei o Drauzio e ele me ofereceu o conto BÁRBARA. Depois tive a idéia de fazer a brincadeira de ver o que muda quando uma mesma inspiração passa por dramaturgos diferentes. Depois busquei patrocínio, aprovei o projeto na lei Rouanet, etc, etc e etc. Mas quem quer patrocinar uma história de um travesti do Carandiru? Foi meu encontro com o Ivam Cabral do Satyros e a empolgação dele que viabilizaram o projeto. Outras pessoas me ajudaram muito: os dramaturgos Sergio Roveri e Aimar LAbaki, o diretor Emilio Di Biasi, entre outros. Quando começamos os ensaios tudo aconteceu:ator quebrou braço, ator foi fazer novela, ator desistiu por não suportar o clima pesado do tema e muitas outras coisas inesperadas.Teve até o capítulo de arrumar três privadas pro cenário (privadas que no fim nem foram usadas). A estréia, as críticas boas, o público que comparece às 22h30 no começo da semana, os olhos do Drauzio brilhando na estréia, são tantas recompensas que acho que ainda não assimilei tudo.

Quatro atores e uma atriz no elenco de O Anjo do Pavilhão 5.  Existe uma contribuição do orbe feminino para a montagem que é ambientada no cárcere?

AF:Com certeza! A peça toda é um pouco feminina. Até o estuprador é delicado! Na verdade fizemos tudo muito juntos e todos participaram de cada segundo da peça. Nem imagino como seria sem a Maria Gândara nos ensaios!

O que pensa ao abrir o jornal e ver um pedaço mínimo reservado ao roteiro dos espetáculos teatrais?

AF:Falha na educação! Por exemplo, a Ditadura tirou a filosofia do currículo escolar e não sei porque ainda não voltou. A formação precária afasta as pessoas da cultura, da busca do conhecimento e assim também do teatro. O jornal não coloca teatro nas suas páginas porque o público busca coisas mais superficiais. Quem estuda, lê, se questiona e teve acesso ao teatro acaba PRECISANDO de cultura.

O artista é vaidoso por natureza? Como é ego do ator?

AF:Aí o bicho pega. Todo ator é vaidoso. O que fazer com a vaidade é a questão. É triste ver um ator sacrificando a compreensão de uma história por que coloca sua imagem, seu ego a frente do espetáculo. O dia-a-dia dos atores revela cenas de dar risada! A vaidade desmesurada gera inveja, crises e pode acabar com um espetáculo. Na figura de produtor foi muito difícil administrar os egos de um bando de artista querendo seu espaço. Uns dando exemplo positivo e outros carentes ou agressivos e egoístas. Talvez a palavra que traga a solução e o equilíbrio seja GENEROSIDADE. Sacrificar seu ego pelo espetáculo é o mais digno que um ator pode fazer, e a recompensa acaba sendo muito maior. Aprendi isso e a vida sempre me reafirma essa teoria.

Teatro. Cinema. TV. Do seu ponto de vista, quais são as diferentes nuances de linguagem para atuar nestes três meios de comunicação?

AF:AH, isso da um livro!!! Mas o básico talvez seja:Teatro- visceralidade ao vivo. Cinema- mais recursos e numa sala escura. O seu olhar é guiado por um telão que nos invade.TV- numa sala iluminada, exige menos atenção e compromisso.

Um vício: Surfe)

Um livro: Judas, O Obscuro de Tomas Hardy e os livros de sonhos do Jung)

Um segredo: Se eu contar deixa de ser segredo, né?)

Um remédio: Dipirona)

Um anti-herói: Mario Bortolotto)

Um seriado de TV antigo: O Homem de 6 Milhões de Dólares ) 

Sobre a próxima montagem baseada em Bárbara, como é interpretar a "mesma história", sob o ponto de vista de dois autores (Aimar Labaki e Sérgio Roveri)?

AF:Muito bom. Duas linguagens diferentes, dois personagens diferentes, dois elencos diferentes, duas direções diferentes... estou descobrindo ainda.

O que acha da internet, o ser humano se tornou muito dependente dela nos últimos 10 anos?

AF:Hoje é fundamental. A velocidade da informação faz parte da evolução que inclui a Globalização. Pena que na essência o Homem continua a de um chimpanzé!

Para finalizar a entrevista, entre na "Panela de Pressão" (jogo de escrita automática) e monte uma frase com as seguintes palavras: esbórnia, cabreiro, sandália.

AF: Quem fica cabreiro com a esbórnia alheia é porque não pode ser o bicho que gostaria de ser. Desce do salto do racionalismo estúpido, da sandália da ignorância,das havaianas, as legítimas do isolacionismo, e mete o pé na Terra e na festa da transgressão descalça.

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