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04/09/2006

 

Emilio Di Biasi é cobiçado por novos atores por ser uma espécie de “star-hunter” do Departamento de Elenco da Rede Globo...Mas não é só isso! Por: Viviane Fuentes                       

Revelações

Ele ajudou a revelar à televisão brasileira talentos como Fábio Assumpção, Maria Luisa Mendonça, Patrícia França, Leonardo Vieira, Letícia Sabatella, Marco Ricca, Caco Ciocler.  

Antes das revelações, um nascimento

Mas Costabile Emilio Di Biasi, nascido em vinte e nove de maio de mil novecentos e trinta e nove, na capital de São Paulo, tem sua própria história para revelar - não é de hoje que ele é ator e diretor.

Fracassos e alegrias em boa companhia

Lilian Lemmertz, Yara Amaral, Glauce Rocha, Berta Zemel, Normal Bengell, Célia Helena. Raul Cortez, Sérgio Mamberti, Antonio Abujamra, dividiram o palco, fracassos e alegrias, em anos dourados junto a Di Biasi.

Minha paixão pelo teatro é meu dinheiro

Sua geração se alimentou de e para o teatro - um pouco diferente da atual que entende o teatro como uma ponte provisória e temporária para chegar à televisão e que considera mais importante ter estabilidade financeira e ser celebridade do que o "fazer" em si.

Entre as artes do engano e da mentira...

Décadas antes de a música do extinto grupo do Kid Vinil fazer sucesso com “Sou boy”, Emilio Di Biasi começava, aos 17 anos, a trabalhar num banco como tal. Nesse ínterim, entre “as artes do engano e da mentira” mostrou-se mais inclinado às artes dramáticas do que o curso que fazia na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Digite O de Ousados

Foi contínuo no Citibank e lá conheceu a atriz Yara Amaral (1936/1988). Apaixonados por teatro, montaram um grupo de teatro amador. Eram ousados, tinham um repertório variado, de Teneesse Williams a Frederick Knott, deste último, encenaram “Disque M para Matar” - peça teatral que Alfred Hitchcock transformou em filme, com Grace Kelly, em 1954.

Férias e idéias que fervilham

Seguiu por um tempo sua carreira de bancário. Recebeu uma promoção no Citibank e tempos depois foi trabalhar no Banco do Brasil até que decidiu passar uma temporada na Europa. Quando voltou ao Brasil, a cabeça fervilhava de idéias. Conheceu Antonio Abujamra, que fazia parte do Teatro Oficina, e que o dirigiu pela primeira vez em “José, do Parto à Sepultura” de Augusto Boal, em 1961.

E os mistérios do sexo

Em 1963, três atores e um autor fundam o Grupo Decisão. Berta Zemmel, Wolney de Assis, Emilio Di Biasi e Lauro César Muniz. Sérgio Mamberti entraria logo depois. O grupo montou “Sorocaba, Senhor” uma adaptação de Fuenteovejuna de Lope de Vega. Antonio Ghigonetto assinou a direção do espetáculo. Entre outros, Emilio atuou em “O Patinho Torto” de Coelho Neto (1864/1934), uma atrevida comédia de situações na qual protagonizava um homossexual - o texto de Neto abordava o sexo de maneira avançada até para os dias de hoje.

Madrinha no Rio

A atriz Glauce Rocha (1933/1971) foi uma das grandes incentivadoras para que o Decisão se mudasse para o Rio de Janeiro - depois do primeiro e estrondoso sucesso de “O Inoportuno” do autor Harold Pinter, em São Paulo. No Rio, encenaram “Electra”, de Sófocles, “O Olho Azul da Falecida”, de Joe Orton,“Os Inconfidentes”, de Flávio Rangel.

Panfletos, protestos, manifestos: não em camisetas

No Golpe de 64, Di Biasi, junto a outros atores escreviam os próprios manifestos e os encenavam em praças públicas, em Porto Alegre. Suspeitando de que estava por vir uma grande revolução, afinal 1 milhão de pessoas foi às ruas, amedrontado de o comunismo subir ao palanque, ele achou por bem fazer uma viagem. Percebeu que era à hora de "reciclar" sua carreira.

Início de um flerte

Flertando com a idéia de dirigir, permaneceu de 1965 a 1966 na Europa. Na Itália, fez o Teatro Piccolo de Milão com consagrado diretor Giorgio Strehler. Colocou no seu currículo Londres com o Estágio Royal Court. Depois a Berliner Emsemble, em Berlim - na época, estudava na Berlim Ocidental, mas dormia na Berlim Oriental.

Estréia inevitável

Em solo brasileiro fez sua estréia como diretor em “Cordélia Brasil” de Antonio Bivar em 1968. No elenco, a consagrada, até então não muito conhecida, Norma Benguell e Paulo Bianco.

Bagagem dos anos 80

Entrou nos anos 80 com uma bagagem de mais de vinte espetáculos dirigidos – entre eles “A Vida do Messias” de Timochenco Wehbi, com Berta Zemel. “A Massagem” de Mauro Rasi, com Nuno Leal Maia e Stênio Garcia. “Hoje é Dia de Rock” de José Vicente, com Raul Cortez e Célia Helena. “Caixa de Sombras” de Michel Christofer, com Lilian Lemmertz (Prêmio Governador do Estado de Melhor Diretor).

O prêmio chama-se paixão

Em 1999, se apaixona pelo sentido poético do texto e da relação humana dos personagens de “Um Passeio no Bosque” de Lee Blessing. Tratava-se da amizade estabelecida entre dois diplomatas, um americano e um russo que, durante a Guerra Fria, encontram se num país neutro, para discutir sobre um programa nuclear. Não em vão a paixão de Di Biasi: ele ganhou o Prêmio Shell de melhor ator.

Trocando figurinhas

Na virada do século assume a direção de espetáculos de uma “nova” e talentosa geração de atores como o divertido e irreverente “PPP@wllmshpr.com.br” com Os Parlapatões Patifes e Paspalhões (Prêmio APETESP de Melhor Diretor). “Dois Perdidos Numa Noite Suja” de Plínio Marcos, com Marco Ricca e Petrônio Gontijo. “Budro” de Bosco Brasil, com Jairo Mattos e João Vitte e, recentemente, “O Anjo do Pavilhão Cinco”, de Aimar Labaki, com André Fusko, Ivam Cabral e Maria Gândara.

A televisão é agradável e é pra todo mundo

Em TV, na Rede Globo Emílio dirigiu “Os Maias” de Maria Adelaide Amaral, “Renascer” de Benedito Rui Barbosa, “Rei do Gado” de Benedito Rui Barbosa e "Esperança" de Benedito Rui Barbosa.

Devoção, substantivo necessário

Com 50 bons anos dedicados ao teatro, felizardos são aqueles que estão na terra, atores estreantes, ou não, de TV ou teatro, que passarem pelas mãos de Emilio Di Biasi. Se souberem desfrutar, podem se considerar salvos da fugacidade.

Emilio na casa de Emilio

É vaidoso, mas em escala pequena. Tem como vício, depois do teatro, o cigarro. Acredita que a imprensa é tendenciosa. Reconhece que a internet é útil, transformadora de uma nova geração, mas ainda se sente desconfortável com ela. Prefere os livros. Clássicos como “Os Frutos da Terra” e “A Montanha Mágica” de Thomas Mann não empoeiram em sua biblioteca.

Vida longa ao teatro

Podemos dizer que Emilio Di Biasi é uma daquelas pessoas que se não existisse, hoje o teatro seria apenas uma arte decadente com um pé na cova. Não graças a ele, essa arte se transformará numa minissérie para a TV “Vida e Morte do Teatro”. Au contraire.

 

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