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09/04/2007

O Universo de um Artista - ao longo de uma carreira de 25 anos, Sérgio Lucena vem construindo um mundo feito de paisagens, homens e bichos que evocam o mistério.                                                        Por: Fernando Trevas Falcone

                                                                   

Em 1986, a galeria Gamela, em João Pessoa, acolhia a primeira exposição individual de Sérgio Lucena. O artista paraibano apresentava uma série de personagens intrigantes. Figuras coloridas, parecendo saídas de um cenário ao mesmo tempo medieval e circense, evocavam no espectador estranhamento, mas também cumplicidade.

 

São criaturas marginais, sardônicas, com um feroz desejo de viver expressa em cores fortes, olhares e gestos. A cada quadro, abre-se uma janela, em que observamos e somos observados.

Nessa fase inicial da sua carreira – que teve um célebre tríptico, A Pedra do Reino, feito em parceria com Flávio Tavares, hoje exposto no Palácio da Redenção, sede do governo da Paraíba – Lucena foi mesclando figuras humanas e paisagens.

No início dos anos de 1990 foi estudar e pintar em Berlim. A Europa Central bem poderia ser o habitat dos personagens que povoavam a sua pintura. Mas, nessa sua nova fase, surgem figuras humanas míticas, inseridas em paisagens que têm vida própria, e que são indissociáveis destas criaturas.

Em 2003, prestes a completar 40 anos, Sérgio muda-se de armas e bagagens para São Paulo, quando muitos de sua geração acomodavam-se em uma estrutura de mercado provincianamente tentadora.

Em sua nova cidade, pinta figuras humanas cheias de sugestões, retratos vigorosos. Ao mesmo tempo, surgem animais e homens imersos em um universo escuro, não identificável.

Bichos, pessoas: falta um mundo em que eles possam habitar. Vagarosamente, surge um mundo primordial, envolto em uma neblina luminosa. São paisagens feitas de luz, onde se insinua terra, água, mas, sobretudo indagações.

A força desse novo universo é tamanha que não permite dividir o espaço com outros seres. Com essas paisagens diáfanas, somos apresentados a um novo mundo. Ou melhor, ao universo do artista, que está a nos convidar a compartilhar do seu significado e da sua existência.

Sérgio sinaliza que criar um novo universo não é negar a nossa própria realidade. Ao contrário, quanto mais nos damos conta que ele pinta um “novo” mundo, este não se apresenta com uma negação do nosso mundo.

Estamos diante de uma proposta ousada: pensar sobre a nossa existência a partir do mistério da criação e da vida.

Que mundo é esse que Sérgio nos apresenta a cada árvore, ilha, céu, firmamento? Será o mundo daquelas criaturas – bicho e gente – que ele próprio forjara?

Seria natural vê-las inseridas nesses quadros feitos de luz e a exigir reflexão?

Cabe a nós essas respostas.

http://www.sergiolucena.net