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18/01/2007

Monte Saint-Michel - Sagrado e Profano      Uma perfeição arquitetônica medieval herdada do catolicismo.                                                                                                

Por: Viviane Fuentes                                                                                                                            Fotos: Mathieu Gillot

                                                                   

Localizado entre a Bretanha e a Normandia, no litoral da França, o Monte Saint-Michel  foi construído em 708 a. C.  a pedido do Arcanjo Miguel ao bispo Saint Albert.

 

Se, neste século, lêssemos uma matéria com o seguinte título “arcanjo faz aparição para bispo” e  nas entrelinhas dela fosse explicado que o anjo pedia a construção de um conjunto arquitetônico, o que pensaríamos?

E se o arcanjo ainda desse detalhes de como deveria ser a tal edificação e tocasse na face do interlocutor, cingindo-lhe uma marca celestial, para dar idoneidade à aparição, o que pensaríamos? 

Num mundo onde a fé se confunde com “desejo de compra” e o limite entre o sagrado e o profano parece não estar muito claro, nem pra quem dita nem pra quem é ditado, religiões obtusas surgem com cultos estranhos a cada dia sem agregar valor perene ao mundo.

Mas não podemos negar o legado que a Igreja Católica nos deixou no campo das artes, filosofia, arquitetura, antes ou depois de Cristo, mesmo se desmoronando em escândalos seculares recorrentes.

Erguido a pedido do arcanjo São Miguel que, no século VII, fez uma aparição ao bispo de Abranches, Saint-Albert, o Monte Saint-Michel é uma das provas "vivas" da contribuição do catolicismo ao patrimônio cultural da humanidade.

Mito ou realidade, o fato é que o crânio conservado de Saint-Albert tem um furo na testa, marca do toque célico e a “pequena igreja”, cripta com granitos sobrepostos, foi construída, tornando-se efetivamente um lugar inclinado à peregrinação.

No decorrer dos tempos, milagres, tragédias, guerras, incêndios, reconstruções, aumentaram o mito e enriqueceram a história cuja seleta comunidade monástica desfrutava a maestria do cenóbio. Mas ela também teve seus feitos.

Quando os monges beneditinos assumiram a abadia no século IX e ainda não havia a censura na Igreja, eles criaram as iluminuras, livros feitos em finíssimas folhas de ouro e decorados, e copiaram importantes tratados, como o de Aristóteles.

Em 1203, após um trágico incêndio, a devoção a São Miguel aumentou ainda mais e a cripta inicial aumentou. Construíram uma abadia de arquitetura gótica, o que atribuiu mais beleza e perfeição àquilo que chamaram de “A Maravilha”.

Mas o Monte Saint-Michel tem personalidade dupla. Quando a maré sobe, na velocidade do trote de um cavalo, ele se transforma em uma ilha. Quando a maré desce, se desencanta, trazendo à tona perigosos bancos de areia movediça.

Porém para a sorte de muitos peregrinos e visitantes, atualmente o fenômeno das marés ocorre duas vezes ao mês em função da Lua e, recentemente, foi construído um açude para facilitar seu acesso – o projeto deve ser revisto em 2007, pois é falho.

Apesar de ser em número menor, ainda hoje milhares de peregrinos, movidos pela fé, continuam seguindo à ilhota montanhosa que é um dos lugares mais visitados do mundo, ultrapassando a casa dos 2 milhões de visitantes.

Ruas estreitas, subidas sinuosas, escadarias longas, alicerçadas pela mítica arquitetura medieval, leva o visitante a conhecer e a contemplar um sítio antes restrito a um grupo exclusivo de integrantes do monastério.

Na abadia, um pátio com arcos e colunas góticas lembra um labirinto, propício à meditação, o pé-direito alto, a vocalize e ao canto. Depois de atravessar as colunas, vem o  regozijo ao deparar-se com uma bela vista para o mar.

Caminhando por suas ruelas, dá para reviver os cavaleiros vestindo rústicas armaduras, cavalgando em época de guerra, pois o Monte Saint-Michel já foi fortaleza militar e, durante a Revolução Francesa, tornou uma prisão do Estado.

Atualmente, monges da ordem católica da Fraternidade de Jerusalém, após séculos morando num vilarejo nas proximidades, obtiveram a autorização para morar no mosteiro, usufruindo de sua abadia.

Verdades e mentiras, milagres ou tragédias, é inegável a maravilha deixada pela Igreja Católica, nesse pedaço da França, munido das maiores marés e das mais drásticas tempestades. Certamente ali jaz muita história, pagã ou não.

Saiba mais sobre o Monte Saint-Michel