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      12/12/2006

Imagem não é Semelhança... Ou é?- até onde o espelho encanta e engana... Pode ele ter vida própria? As atrizes Grace Gianoukas e Maria Gândara discorrem sobre o tema, com respostas inteligentes e divertidas.Por: Viviane Fuentes

 

Alexandre Perroca fotografa Maria Gândara e Mathieu Gillot fotografa Grace Gianoukas

 
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A atriz e diretora Grace Gianoukas está em cartaz há cinco anos com o hilário "Terça Insana", sucesso de bilheteria, com safra de novos e bons comediantes como Marco Luque, que acontece toda terça-feira no Avenida Club (SP). A atriz Maria Gândara atua em "O Anjo do Pavilhão 5" , texto de Aimar Labaki, baseado em conto de Drauzio Varela, onde ela interpreta a Galega, o travesti do pavilhão - o espetáculo reestréia em SP em janeiro de 2007.

 

Leia trecho  de Sofia & Fiona, texto teatral de Viviane Fuentes que disserta sobre o tema

 

SINOPSE...

Sofia, uma pessoa sem grandes ambições, com inclinação para ser atriz, cansada de suas obrigações sociais, das desilusões cotidianas, chega à conclusão de que pode ser oportuno à sua existência abster-se de conflitos existenciais do gênero, e decide tornar-se apenas uma imagem.

Para isso, troca de lugar com seu reflexo, e atravessa o cristal do espelho. Fazendo o movimento inverso, Fiona, o reflexo de Sofia, passa a ser de carne e osso. O espelho torna-se uma linha tênue, uma divisória, entre dois mundos, supostos e distintos. O mundo “consciente” de Sofia e o mundo “inconsciente” de Fiona.

1º ATO

 Na luz de serviço, ouve-se burburinhos de parque de diversão; risos de crianças fundem-se com o som de rojões e realejo; fogos de artifício refletem no palco. Sofia entra - o palco se ilumina - ela carrega no ombro uma bolsa Louis Vuitton. Caminha e observa espelhos suspensos, bizarros, um diferente do outro - pára em frente a um de corpo inteiro e se observa até acabar de comer o algodão doce que tem na mão.

SOFIA

(fala ao espelho) ...Que estranho esse reflexo! ...Disforme. Essa não sou eu. Se parece bastante, mas não sou eu. Estou mais gorda. (pensativa) Quem poderia estar dentro de mim? Não estou grávida. (indiferente) O algodão doce pode ter me estufado. (observa-se mais um pouco, atentamente, no espelho) Não, definitivamente, eu não me pareço com ela. (convencida) Ela é que se parece comigo! (cautelosa, olha para os lados, confere se não há ninguém e volta-se para o espelho; divertindo-se) Espelho, espelho meu, existe alguém mais louca do que eu?

FIONA (VO)

Eu!

SOFIA

(espantada, olha para cima para baixo e para os lados) Eu não disse “eu”? (chocada) Nem abri a boca! Nem mexi a língua! (toca a língua) Se bem que a língua não se mexe quando se fala “eu” (gesticula bem, como se fosse um mantra) eu... eu... eu...

FIONA (VO)

(como um mantra)... Você... você... você...

 

SOFIA

(assustada) Mas o que é isso?! Que eco comprometedor! (p. da vida) Eu falo eu, ele diz você, e se eu disser sim, então ele vai dizer não. Desse jeito, as pessoas podem me interpretar mal!! (ressabiada) Será estão tirando uma com a minha cara? (1/2 PAUSA, segura de si) De qualquer forma, definitivamente, não existe ninguém mais louca do que eu. (convencida) Diante do meu ser de insano brilho, até o cristal do espelho perde o brio! (se observa no espelho com muita curiosidade)...Será que é possível? Assumir a minha imagem? Ela vem para cá... Como eu seria do lado de lá? Feliz ou triste? Magra ou gorda? Lésbica ou não? De Áries ou Escorpião? (preocupada) Bunda gorda ou bunda magra? (vira o traseiro para o espelho e depois grita) ... Que bunda enorme! Cruzes! (volta a ficar de frente para o espelho; segura de si) Eu sou mais magra e o meu nariz, oras, o meu nariz não é tão grande assim... Queixo? (toca o queixo) Confere. Sobrancelha? (toca a sobrancelha) Confere. Buço? Boca? (toca a boca) Confere... Espera aí! Não, não pode ser!!! (terrivelmente petrificada) Não é possível. Pelos poderes de Ísis, eu não uso batom vermelho, só rosa!!

FIONA (VO)

(arremeda Sofia) Pelos poderes de Ísis, eu não uso batom rosa, só vermelho!

SOFIA

Que absurdo! Não se pode falar nada, mudam tudo! Vermelho é vermelho, mas rosa... rosa é rosa! (nostálgica, divaga)... Quando criança, eu era estrábica, mas não daltônica! Usei uns garrafões desse tamanho e uma das lentes era tampada com fita isolante, daquelas pretas, sabe?, e que já tinha sido usada pelo meu pai, imagine o colante?, (irônica) uma beleza! Por conta disso eu não andava para frente, mas pra direita e pra esquerda, ou em círculos, só chegava no colégio quando a aula já tinha terminado, o galo cantado, e SE alguém tivesse me pegado e pra lá levado. (MT) Vivia me trombando nas paredes, inclusive, quase me apaixonei por uma delas de tanto me esbarrar... Branquinha, lisinha durinha, “mas sem perder a ternura”... Tinha certeza que aquele ser inanimado era a minha alma-gêmea! (ri) Quanta bobagem!! Seria impossível essa relação! (para si) Nenhuma parede se apaixonaria por mim! (MT) Definitivamente, eu só uso batom rosa! (convencida) Combina mais com o meu ser que versa e prosa!

 

(...continua, mas não aqui...aguarde!)

 

Atenção: O texto acima está registrado na Biblioteca Nacional sob o nº  de registro 351.101 (Ago/2005), não o utilize sem autorização e créditos devidos.