Metáfora do Anão de Jardim e a Vocação para as Artes

Essa poderia ser uma história de ficção, e iniciada com a vogal “e”, mas não é. O tom dela poderia se assemelhar à locução do ator Fabrice Luchini num famoso filme francês em que um anão de jardim “protagoniza” o “coadjuvante”.

O proto-coadjuvante poderia ter sido raptado por uma gangue real e radical que liberta anões de jardins e os devolve à floresta, às profundezas do país que já foi de Bonaparte (que na verdade era corso) – porém, o proto, mudou sua natureza.

Em seu âmago, o boneco de cimento tinha vocação às artes, e transformou um papel pequeno em algo concreto no cinema que é feito de película. Arrasou ao invés de se entediar entre duendes, elfos e fadas no meio do mato.

A protagonista do filme francês era a Tautou, não, ela não tinha tatuagem, apenas o sobrenome. A atriz citada ajudou a elevar o cinema francês a um patamar mundial com sua vocação para atuar e com suas graciosas covinhas!

E é dessa vocação que falo, quando penso nos atores da Cia. Auto-mecânica, Renata Jesion, Zemanuel Piñero, Mauro Schames e tantos outros atores que tentam solucionar impasses em suas carreiras para continuar a coexistir.

Para isso nasceram, por isso morrerão – e não entendam como algo trágico! Vocação é mesmo um fardo, e para as artes é como uma lamparina diante aos maus-humores da vida. Um dia o fardo-lamparina deixa de iluminar para brilhar.

Quem vive de teatro está sujeito a uma vida nonsense, mesmo nas entrelinhas de uma xícara de café sendo elevada à boca. Nada faz muito sentido, não existe uma tal normalidade religiosa de vida no meio artístico... Amém!

Ser ator com plateia, sem plateia, ser ator sempre que houver palco ou plateia. E não necessariamente nessa ordem, e um elemento não depende do outro. O ator vai para o teatro encenar e às vezes ele atua em casa mesmo...

Como assim, ele se apresenta em casa?  Vida online?

Não. Atua em uma casa, para alguém que está em outra casa, conectado à internet. Ao vivo e com hora marcada! E, aos esquecildos que perderem o dia D, o espetáculo continua em cartaz na web. Isso é o Teatro Para Alguém (TPA).

O Maravilhoso Mundo de Renata Jesion e Nelson Kao

Renata se apresenta para multidão e, às vezes, para ninguém. Às vezes, escutar o outro a ajuda a entender melhor suas ideias. E, às vezes, o inverso ocorre. Escuta sua própria voz e se faz ser escutada por outros. Com ou sem eco.

“Quando pensei no projeto Teatro Para Alguém, pensei desconectada do You Tube, e ser visto por grandes massas. Mas, sim queremos ser vistos pela grande massa, o que eles verão será cultura, conteúdo de veia teatral, não loucuras individuais, como o meu cachorro fazendo cocô.”  (Renata Jesion)

Kao é marido, mentor e termômetro de Renata, ele tem descendência nipozen. É também fotógrafo e diretor de arte do TPA. Certamente, juntos, devem adorar tomar sorvete quando está calor e, se Renata tiver febre, delirar, Kao colocará o canudinho da água de coco na boca dela, e esperará tudo se acalmar, refrescar.

Mas o mais importante para essa matéria é deixar claro que Kao e Renata, juntos, são cabeças pensantes 24 horas por dia. Sócio-fundadores do Teatro Para Alguém, se uniram para fazer o que melhor sabem fazer: aprontar arte.

“Somos pessoas de teatro, é o que mais sabemos fazer.“ (Renata Jesion)

Teatro. É fazendo o seu melhor no que se sabe fazer é que o melhor será feito. Opa, acho que estou girando em círculos... Como seria girar em quaadrados contra a maré? Acho que Renata saberia fazê-lo!

Se definido pelo cenógrafo, pelo diretor que, com 1 colher é possível transformar um cenário em cozinha, o ator consegue cozinhar. (Renata Jesion)

Entre o café da manhã e o jantar, em seu maravilhoso mundo, o casal estreou em outubro de 2008 o primeiro site de teatro virtual no Brasil, convidando os amigos para construir e a ajudar a disseminar uma linguagem de DNA teatral na internet.

Renata e Kao são cabeça e coração, caule e flor do Teatro Para Alguém. Eles já estão contando uma outra história dentro da nossa própria História, mas não conte a eles, eles não contaram a ninguém, pois ainda não sabem!

O Patrocinador Imaginário

O Teatro Para Alguém é um projeto concebido por atores com mais de 18 anos de profissão, e que quer o autor como protagonista. Um teatro surgido, pensado, ensaiado e feito em uma casa para ser visto em outras casas através da internet.

O usuário não paga para assistir o conteúdo que está lá: ótimos atores e dramaturgia nacional e contemporânea garantem o sucesso do projeto - já deram o ar da graça no TPA autores como Mario Bortolotto, Alberto Guzik e Antonio Prata.

O quadrinista Lourenço Mutarelli era o objeto do desejo de Renata Jesion e, um dia, seu desejo foi realizado. Mutarelli escreveu especialmente para o TPA  “Corpo Estranho” que inaugurou o projeto, com o próprio autor no elenco.

O TPA é um site, uma marca. São profissionais fazendo o teatro subir à rede, para ser democrático. Uma cooperativa, um grupo de Commedia Dell’ Arte na era da pontocom, e que aspira transformar-se em rede social teatral no ciberespaço.

“O ator faz teatro quando se sente no teatro ” (Renata Jesion)

Textos de autores de vanguarda e da velha guarda, currículos de atores, entre outros, estarão à disposição para consulta mundo a fora pela web. Isso já está engatilhado, segundo Jesion, só falta o processo.

A proposta é ser um veículo de acesso de artistas que buscam coisas em comum. Se um ator na Argentina, cadastrado no site, ler um texto de um autor brasileiro e quiser montar em Buenos Aires, o TPA intermediará a comunicação entre eles para viabilizar a produção.

“O Teatro Para Alguém é pra quem não tem, pra quem não pode, pra quem não vê. Foi um projeto pensado pra quem está nos confins da pQp.” (Renata Jesion)

O caminho para as exibições dos espetáculos no site é o ao vivo. E com datas marcadas para serem transmitidos. Quem perdeu, perdeu... Não leu o informe TPA, baubau! Mas ainda tem chance de assistir no porão da casa. Não ao vivo.

A cada 3 meses haverá uma curadoria com autores do meio teatral para escolher textos de novos autores a serem montados e exibidos no TPA... Isto é um sonho prestes a realizar se o patrocinador imaginário pronunciar-se.

(Até o fechamento desta matéria, o patrocinador ainda não tinha se pronunciado.)

A ideia é produzir um novo espetáculo a cada 15 dias, mas sem patrocinador isso é impossível.  (Renata Jesion)

"Teatro do Meio", Uma Nova Linguagem?

Não é cinema. É sequencial. Não tem edição. Apenas música incidental e créditos. Não é teatro, pelo menos tradicional. Não tem a quarta parede, o público. O que é então? Vídeo na internet? Teatro gravado para internet? Não. Talvez a mídia, não a linguagem.

Nem mesmo Kao ou Renata sabem o que é. Esse é o barato de ser precursor. Essa é a proposta do Teatro Para Alguém. Fazer teatro onde quer que seja com democracia e não dar nomes aos bois. Por inclinação!

Sabem que têm que fazer. É a tal vocação. Igual ao do anão de jardim do filme francês. E se, para não abandonar o teatro, o teatro tem que ser reinventado – e bem reinventado - que assim seja!

Para isso e por isso o Teatro Para Alguém surgiu. Para abrir alas a um teatro do meio, um caminho entre cinema e teatro e vídeo, numa “terceira” linguagem. Afinal a internet é o nosso “third place”!

Se a sociedade em rede se baseia em nossas formas de relação reais em casa no trabalho no ócio, e depois processa a virtualidade, transformando-a em realidade, então não há como negar, o teatro do Teatro Para Alguém vai estar lá, em cartaz por muitas temporadas.

Olá, tem alguém aí? Algum patrocinador?! Alôoo… Algum patrocinador apresenta?◘

http://www.teatroparaalguem.com.br/

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Assista trecho da entrevista que Renata Jesion materializa patrocinador