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31/5/2005 Tipos, publicidade e viva Gerard Depardieu! Por: Viviane Fuentes

   “Fiz um teste de VT e fui selecionado para atuar num filme publicitário.”, pode não parecer, mas falar isso é de grande alívio para a maioria dos atores ou modelos.

   Normalmente o cotidiano deles, além de outras coisas, consiste em fazer três testes por dia e, quiçá, passar em somente UM teste por ANO. É claro, existem exceções.

   O meu caso, por exemplo. Passo em um teste a cada três anos. E faço três testes por ano, não por dia.

   Apesar da minha formação ser teatral - há quem duvide- há mais de 10 anos abandonei minha promissora carreira de atriz (que distribuía panfletos e que se continuasse teria grandes chances de ocupar o lugar deixado por Cicciolina) para escrever (bilhetes, palavrões, piadas para pedestres e etc).

   Desses “três” testes/ano, subtraia dois, pois eles fazem parte da margem de erros (perdas e danos). Um erro fica por minha conta. O outro, por conta das agências. Assim se estabelece uma relação bilateral entre agência e agenciado.

   Explico o meu erro. Sempre esqueço o texto e sou teatral demais, ou seja caricata, mesmo tomando meio vidrinho de Maracujina antes de ir para o teste. É comum eu ouvir no ramo, com furor:

    — Você lembra um dos personagens de Almodóvar!

    — Antonio Banderas? - penso.

   Porque, na publicidade, só se o meu rosto lembrasse o dele (um dos extintos queridinhos de meu cineasta preferido)... Exageros a parte, eu fico bem meiga quando maquiada...

  Imaginem um tipo como o de Rossi de Palma fazendo publicidade para a manteiga Président, no café da manhã, com filho, marido, e labrador... Você consegue? Eu também não.

   Por quê? Porque o cliente, normalmente, não quer esse tipo de personagem associado ao seu produto. ]

   Retomando.

   E qual é o erro das agências de casting? 

   Às vezes, elas se enganam e mandam atores que não correspondem ao biotipo esperado pelo produtor. Cito um exemplo. Uma vez que me mandaram fazer um teste para uma taxista.

  A Produtora procurava o perfil “clichê” - o que fui saber só na hora do teste - o meu perfil clichê é de “perua” - por se tratar de uma profissão que, até a pouco, era exclusivamente masculina, as taxistas são imponentes, até fisicamente, pois reproduzem o comportamento masculino para serem tratadas pelos companheiros como igual e, talvez inconsciente, para não serem estupradas, ao pegar um cliente à noite (isso não é ironia, é fato).

   Se eu fosse uma atriz mais atuante e mais que talentosa talvez superasse minha altura dentro de um táxi, mas não. No meio publicitário, atores são tipos: o anão, o negro, a loira, a perua, a bonita, o feio, o gay, o velho e assim por diante.

   É trivial ouvir o produtor de casting, nos testes de VT, se referir ao ator através do “tipo” do personagem. Não gosto dessas “nomeações”, soa segregativo.

   Porém, como roteirista, devo admitir, não escrevo na ação do roteiro: “um homem de um metro de altura, braços que chegam quase nos pés, cabeça maior que a proporção do corpo entra na loja.”. E sim: “um anão entra na loja”... a informação passa mais rápido, não? O fato é, meu caros amigos internautas, depois dessas divagações do nada, vou dizer ao que vim.                    

       — Fiz um teste de VT e fui selecionada para atuar num filme publicitário, nesse mês de maio.

   Conto.

   O produto do cliente é uma marca de bebida alcoólica relativamente nova. (está vendo aí, se fosse num roteiro eu só escreveria "pinga"!) A F/Nazca que, trata muito bem o humor na publicidade, é quem assina a criação do roteiro.

   O que ela bolou? Para que o nome do produto do cliente ficasse na cabeça do expectador, eles recriaram situações diversas do cotidiano, onde troca-se uma palavra qualquer pelo nome do produto.

   Exemplo. O nome do produto é Turantai, ao invés de eu dizer Eu Te Amo eu digo Eu te Turantai, caspice? O teste de VT que eu fiz era para uma "militante", no estilo Greenpeace. O texto a decorar: “Salve os Turantais!”.

   Entrei na sala do teste, me concentrei, ouvi o que me pediram e, finalmente, atuei. Efusivamente, gritava: “Viva os Turantais!Viva os Turantais!!” e, por conta própria, antes de ouvir "corta", terminei a cena.

   O gentil assistente me disse: "Veep, é isso aí, a intenção é essa, mas é Salve e não Viva os Turantai." De vergonha, quase quis enfiar minha cabeça dentro da calcinha!! Um texto tão curto... Fiz novamente a cena e quando terminei não tinha a menor idéia, se eu tinha dito Viva ou Salve.

   O assistente disse: “Ok.” deduzi que estava “ok”. Saí da sala e fui embora arrasada!

   Na minha opinião, eu não tinha passado no teste. Às vezes o ser humano possui uma visão destorcida de si mesmo, e é radicalmente auto crítico, talvez seja uma forma de pensar que ele é Deus.

   Eu preciso aprender que, tem horas, que não cabe a mim, me julgar ou me criticar, que está na mão de outros. Pensando nisso, dois dias depois do teste, refleti bastante e concluí que sim, que eu tinha chance de passar, como qualquer outro bom ator.

   A agência me liga. Eu tinha sido pré-editada para o filme.

   Dia seguinte, a agência liga novamente. Eu havia passado no teste. Fiquei contente, satisfeita, mas nem dei pulos de alegria, como antigamente, coloquei um torrone de açúçar na boca, estava com fome, e gritei:

  — Viva Gerard Depardieu! Esse sim é um bon vivant, come as melhores gulodices do mundo, sem culpa, é charmoso, talentoso, e ainda sabe falar francês (mesmo apesar de ter problema com o álcool)! (fim)