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09/04/2007 - Fila, cultura brasileira: em exibição...

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08/11/2006 - Bulímica é a madrasta! Por: Viviane Fuentes

Gastei uma tarde inteira, listando possibilidades que me fizeram engordar enquanto eu mesma fazia a unha do pé e da mão, esperando o esmalte secar - é claro tomando muito cuidado para a caneta não riscar o verniz.

Surgiram algumas revelações, fatos concretos e divagações - alguma coisa deve ser o real motivo para minha calça jeans favorita não fechar o zíper e meu único tailleur ter perdido os botões:

1.                 Terei eu a mesma doença do meu ídolo de infância, Jerry Lewis, a rara distrofia muscular?

2.                 Cruzar os 35 anos é mesmo uma ida sem volta? Fácil engordar, impossível emagrecer?

3.                 Posso estar grávida e não gorda... (quando foi a última vez que menstruei?)

4.                 A culpa é do uso contínuo da calça de cintura baixa que, com o tempo, alarga os pneus e nem notamos porque as gorduras estão acima do corte desse modelo de calça?

5.                 Existe algo muito além do entre quadril e cintura que a nossa vã ignorância possa explicar?

6.                 Computador versos cadeira versos 12 horas por dia sentada...

7.                 Esperma engorda?

8.                 O destino quer que eu abra uma borracharia no bairro (mas de pneu de moto ou trator?)

9.                 O que eu tenho ao redor da cintura não é gordura, é massa muscular ganha com pilates e yoga??

10.             Terei eu uma visão destorcida de mim mesma?

11.             ...

12.             ...

13.             ?

14.             .

15.             ...

16.             Carambola, borrei o esmalte!

         Estou enlouquecendo! Tenho que detectar a causa dessas gorduras a mais para corrigir o erro. Já tomei algumas precauções - por enquanto só uma - tirei o excesso de doce da minha dieta (mas não definitivamente de minha vida...).

A última vez que subi numa balança, carregava comigo um quilo a mais de mim mesma. Há dois anos não me peso. Por medo. Dizem que gordura não pesa, só faz volume.

É sempre assim, quando me convenço que o importante é estar bem comigo mesma, ser feliz, e desencanar de perder dois quilos, sabe o que acontece?

Engordo.

A vida toda, fui perseguida por meu estômago e abdômen. A maioria dos conhecidos diz que não tenho barriga. Claro que tenho! Não sou cega. 

Gordura sobe para a cabeça?

O que eles não entendem é que o meu ideal de barriga é tábua. E a questão nem é tão estética, me sinto desconfortável comigo mesma... Entende? E é tão pouco o que tenho que perder!

Nunca fui tábua, nem quando criança, e por alguns motivos: Meu avô, meu tio e a macarronada minha avó. (eu sei é acaipirado falar “macarronada”, hoje em dia é “pasta”, mas o que minha avó fazia era “macarronada”!)... Enfim, ansiava em ser como os homens da minha família e comia pratos-montanha iguais aos deles! Principalmente a macarronada... No final, gulosa como quê, sofria de dores de estômago e vomitava tudo que havia ingerido.

Mesmo bulímica, lá estava o “assanhamento”, as fotos não me deixam mentir, meus gambitos elegantes e a barriga deselegante - devo ter uma lombriga criada, domesticada e tratada a pão-de-ló desde então.

Na época, o médico de família constatou o meu problema, me faltavam enzimas importantes para a digestão.

Enzima. Será esse o nome para aqueles que têm olhos maiores do que a barriga? E por que então a barriga não é menor do que os olhos? Tudo é uma questão de ver com os olhos e lamber com a testa?

Não sei, difícil saber. De qualquer forma, quando criança eu tinha outras preocupações do que apavorar-me com a altura do meu abdômen. Agora não me lembro, mas tinha.

Esmalte seco, unhas impecáveis, terminada de fazer minha lista de "possibilidades", ingeri alguns Passiflorines (calmante natural a base de maracujá que tomo quando estou agitada ou próxima daqueles dias) e encorajei-me.

Respirei fundo, e fui ao álbum. Fotos de três anos atrás. Lá estava eu. De biquíni em Camburi. De maiô, na piscina de parentes. De top e calça bailarina num domingo na casa de amigos. Com canga no sítio...

...Engraçado, eu não tinha barriga, não era tábua, mas... Quer dizer então que o exagero virou verdade? A vingança tarda, mas não falha. Ainda bem que estou calma. Sofro do mal de distorção, visão destorcida de mim mesma.

Esse Passiflorine funciona - quero dizer esses - ele transformou ansiedade em melodia, tédio em calmaria, então é por isso que o silêncio tomou conta da língua dos meus amigos. Mudou a postura deles. Mudou minha postura.

Verdade é ciência. Voltei a reclamar nos últimos meses dos meus quilos a mais (a balança continua na mesma - mas gordura não pesa!!) e ninguém contestou.

As pessoas nos vêem diferente do que quando nos vemos no reflexo do espelho, explicam especialistas. Nem tanto ao céu nem tanto a terra. Algo no cristal deve ser verdade bruta. Não sou um espelho sem aço.

Tenho pneus e não estou sozinha, e pior, não estou tolerante... Meu, isso parece papo de Balzaca! (tenho percebido que os temas do Pseu do Blog são de uma mulher balzaca, por que será?)

O que aconteceu, Pseu? Não, não foi a máquina de lavar que encolheu minhas roupas. O quê? Vou ter que parar de ingerir Corneto, dia sim, dia, não? Ai, Pseu, Pseu!

... Lembrei-me de um importante detalhe, a dermatologista me disse que o meu nível de insulina está baixo. Disse-me que o remédio que me medicaria, tiraria o apetite um pouquinho só.

Quase chorei quando ela terminou de prescrever a receita. Era tudo o que eu precisava, que alguém me controlasse, detivesse minha fome e revertesse a minha ansiedade. Ao chegar em casa, encarei-me nua, de frente ao espelho:

— Espelho, espelho meu, quantos anos tenho eu?

— 35.

—... Quantos?

— 35.

— Mas por que não me disse antes!

— Você não perguntou.

— Pensei que tinha 20... Quanto peso eu?

—  48,5 kg.

— Quantos metros tenho eu?

— 1 m 57 cm.

— (é impossível alguém ser obeso com essas medidas...)

— Gordura não pesa...

—...

Lembrei-me de Kate Moss. Não porque me ache parecida com ela, passou longe, mas será que Moss poderia ser uma inspiração para um personagem dos Irmãos Grimm?

Por que Kate é magra e eu não?  Não deve ser fácil ser Kate e ter que ser sempre bela, sempre magra, sempre triste. Eu poderia querer ser como ela, mas encararia ter a vida dela?

Afinal qual é o retrato social e atual feminino? Mulheres obcecadas em faca e agulha. Adolescentes bulímicas ou viciadas em diuréticos. Balzaquianas tiranas a favor da magreza. Mães que querem ser suas próprias filhas, ter o corpo delas...

Grimm. Grimm. Grimm. Baseado em um de seus contos, me ocorreu a idéia do seguinte diálogo contemporâneo entre a Madrasta da Branca de Neve e o Espelho Mágico:

— Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?

— A pergunta não é essa.

— Espelho, espelho meu, existe alguém mais MAGRA do que eu?

— Sim, minha cara, existe.

— Quem? – pergunta preocupada a madrasta, sem enrugar a testa (aplicara botox no mês passado).

Depois de um longo silêncio e, finalmente, o Espelho responde:

— Kate Moss, a Bela.

Indignada, a Madrasta esquece da Branca de Neve, de formas rechonchudas e bochechas rosadas, e se empenha a assemelhar-se a tal modelo.

Meses depois, de frente ao espelho, pergunta:

— Espelho, espelho meu, existe alguém mais magra do que eu?

Ouve-se a longa gargalhada do espelho.

            — Você consegue se ver em mim? – pergunta o Espelho Mágico.

A Madrasta se mira no espelho, marcado por vestígios de longas carreiras de cocaína, o aço não perdurou, e se depara com o estado lastimável, insalubre, do seu castelo.

Vômito para todo o lado. Caixas de remédio tarja preta. Lâminas de barbear com restos de melecas esbranquiçadas.

Voltando-se para o espelho, e mesmo sem se ver refletida nele, a Madrasta crê-se gorda, enorme. Seu prumo esvaiu, nem se lembra mais que, um dia, sua razão de viver foi matar Branca de Neve (ou mesmo, ser magra como Kate Moss).

O que ela não sabe é que Kate já nasceu magra, e que ela é do tipo de mulher mais encorpada, menos menina, e que não tem como alterar o próprio DNA (ainda), nem com magia.

Em seu ostracismo anoréxico, a Madrasta nem soube que Kate, a Bela, de tão bela, trocou a alimentação por cocaína, água por champanhe, para manter-se esbelta e esguia. E quase findou sua “carreira”, por causa de um escândalo reincidente - o vício em drogas pesadas, quebrou em cacos sua imagem (temporariamente apenas).

Príncipe Depp, ex-namorado da Bela, astro de cinema, ao saber do triste ocorrido, a presenteou com um espelho de corpo inteiro e no cartão escreveu algo mais ou menos assim: ...Para que se olhe de frente. Para que se encare de frente.

É claro, piadas foram criadas em torno do gesto galanteador e poético do príncipe. O fato de o consumo de cocaína ter aumentado, o tamanho da bandeja da para esticar carreiras da modelo também. Porque espelho é modelo a ser seguido.

Há cinco anos, não tenho espelho de corpo inteiro em minha casa. Nem ganhei um. Muito menos do Depp. Mas não serei conivente ao afinamento do ser, e me inspirarei em seu gesto.

Comprarei um espelho de corpo inteiro. Aceitarei minha própria natureza. Espelhos são feitos de aço, de cristal, e eu jamais serei Kate Moss por um simples motivo: eu não sou ela. (FIM)